quarta-feira, 2 de julho de 2008

39.Porque corre o vilão? (4)

Haveria de fazer-se uma psicanálise ao vilão, à legião.

Primeiro separando-os por caras, qualidades, afilhados conexos, etc. depois isolando-os um a um, em sala individual, de preferência bem ventilada, a seguir juntando-os em grupos, primeiro segundo critério de afinidades, depois aleatoriamente, e isto tudo muito bem feito, conforme método científico reconhecido, mobilizando os recursos financeiros, técnicos e humanos necessários a tão relevante investigação, obtendo inclusive o concurso de especialistas de renome, estrangeiros e bem pagos, e então, colher os dados, revê-los e revirá-los, sistematizá-los, dar-lhes lógica, por fim informatizá-los, encher toneladas de dvds dessa preciosa informação, utilíssima para todas as gerações, incluindo as vindouras, nada descuidando, nada relegando, e depois, uma vez o trabalho conscienciosamente concluído, com esmero, pronto e prestes à grande revelação, erguer em monumento a pilha gigantesca obtida, e deitar-lhe fogo.

Porque já se conhece a patologia, basta para isso perguntar ao povo, que nestas coisas é cientista. O vilão tem um síndroma já homologado que se chama sofreguidão de ganância de poder, quer mais, sempre mais, corre desenfreadamente por uma sofreguidão de ganância de poder. Coitado está sempre insatisfeito, já lá dizia Buda: “o desejo é a raiz de todo o sofrimento”.

Algures, um progenitor, um mentor, um estupor, conspurcou-o com a febre do poder e desde então não pensa, não sente outra coisa, entranhas cheias palpitantes de mando, de sucesso, de prestígio.

Inicia-se, estuda e aprende, Urdiduras e Teceduras, Tramas e Teias, decora e guarda, concluiu o tirocínio; prossegue, medita e assimila, Manobras e Estratagemas, Enredos e Intrigas, fixa e retém; continua, descobre e compreende, Maquinações e Conspirações, Conjurações e Fabricações, Conluios e Traições, regista e arquiva; ascende, industria-se e pratica, Ciladas e Emboscadas, Armadilhas e Ardis, Artimanhas e Artifícios, está quase um mestre de política; concluiu, Arrioscas e Aleivosias, Felonias e Insídias, temos vilão!

Estudioso aprimorado, discipulado excelente, diplomado com distinção. Inscreveu-se cedo no partido, leu Maquiavel e afins, educou habilidades, desenvolveu qualidades, forjou o carácter, temos vilão!

Tudo isto por culpa do síndroma.