sábado, 26 de janeiro de 2008

01.Homicídio Involuntário ?

Hoje, Sábado, 26 de Janeiro de 2008, um homem é despejado nu do hospital de Vila Real. Nu, não em figura de estilo, mas literalmente. Segundo dizem trazia apenso uma fralda. O taxista chamado para o transportar insurge-se e um qualquer funcionário, o do despejo, vai a contragosto e provavelmente a olhar para o relógio buscar um lençol, trapo ou sucedâneo. O homem é recambiado para casa e mais tarde, mas nesse mesmo dia, retorna ao hospital e morre.

O episódio não se passa algures na idade média mas neste século de civilização, de ciência e tecnologia, de desenvolvimento e não é ficção mas realidade, hoje, Sábado, dia 26 de Janeiro de 2008, em Vila Real, cidade da União Europeia, porque já não estamos “orgulhosamente sós”.

Na notícia que é dada no telejornal da estação pública portuguesa, designação cujo sentido já me escapa, diz-se a seguir que o hospital vai abrir um inquérito, palavra formal e séria que resolve tudo, justifica políticos, sossega funcionários e conforma a turba. A bem da moral, da responsabilidade, do rigor, e de todos os demais subidos conceitos vai-se abrir um inquérito, excelente processo, digo, palavra, deste excelente regime que vai vivendo de intermináveis inquéritos. Os incautos dar-se-ão por satisfeitos, afinal sempre se poderá encontrar uma justificação racional para um homicídio involuntário, enquanto os menos ingénuos saberão que do inquérito nunca mais ouvirão falar, que nunca produzirá resultados, sendo arquivado por inconclusivo, depois de, seguramente, ter passado muito tempo, lapso necessário para o esquecimento, dada a complexidade de investigar o porquê de um qualquer funcionário ter despejado um qualquer pobre coitado.

Já sabíamos do primado do capital sobre o trabalho, agora começamos a sofrer o primado do capital sobre a saúde, o que afinal tem toda a lógica de acordo com a visão economicista que este governo tem do homem, ora bem de consumo, ora bem de produção, mas sempre reduzido a uma equação de custo/proveito, em que para sua fatalidade, da do homem e não do governo, e no que trata à saúde o proveito perde para o custo.

O “rei vai nu”, já o tenho gritado muitas vezes, mas a turba atrasa-se em abrir os olhos e como cordeiros cegos arrastados para o matadouro prosseguem a sua peregrinação às urnas.