quarta-feira, 23 de julho de 2008

45.A derrota do vilão, a vitória do herói (6)

Gostaria de vos anunciar a derrota do vilão e a vitória do herói, de dar-vos essa esperança e essa certeza. Gostaria de vos prometer que o vilão, mais tarde ou mais cedo, acabará por se afogar no lamaçal que ele próprio cultivou, que acabará por provar o sabor das poções que tão maquiavelicamente engendrou para envenenar o herói. Gostaria de vos garantir que o universo conspira a favor dos bons e que a força das coisas é sempre positiva favorecendo o herói. Mas não posso. Nada disso vos posso anunciar, prometer ou garantir.

Se o fizesse era como o vilão, mentiroso e cobarde. A verdade é difícil e não é para os frouxos e indecisos. E se o fizesse, para além de mentiroso e cobarde, a História se encarregaria de me contradizer. A História diz-nos que nem sempre há heróis, ou que eles tardam, ou ainda que apesar da sua heroicidade nem sempre vencem, acabando muitas vezes vencidos.

O drama reside no tempo, na duração do reinado do mal, no desgaste que provoca no povo e na nação. Se for longo contai com os momentos em que tudo parece perdido e a libertação uma mera miragem, contai que nesses momentos o povo entrará em depressão, deixará de esperar, deixará de acreditar, deixar-se-á vergar.

Não existe nenhuma promessa ou garantia de que o bem triunfe sobre o mal, e sabendo isso o vilão inventou a mais perigosa das suas armas: a esperança. A esperança atrasa o homem. A esperança pode converter-se no pior inimigo do herói, se lhe for exterior, mais ainda do que o próprio vilão. A esperança que vem de fora, que conta com o nenhures algures, é oca e abstracta, é a desistência do homem, é a fuga da realidade para o subjectivo. Quando morreu a esperança comecei a viver, até aí vivia da esperança. Sei que isto é novo e é duro, mas é a verdade. “O tempo não se ocupa em realizar as nossas esperanças: faz o seu trabalho e voa.” (Eurípedes) Não é a esperança que realiza o teu trabalho, é o teu trabalho que fundamenta a esperança. É preciso, é crítico e imprescindível, que o herói não espere, que não conte com a esperança, mas que a faça, que a construa em cada momento, dia a dia. Assim haverá esperança! E é desta esperança, mas só desta, não suspiro mas suor, que sairá a vitória.