sábado, 12 de julho de 2008

42.Duas faces da mesma moeda - 1.Baixa democracia

A democracia portuguesa é das piores da Europa diz a Demos (ONG – Organização Não Governamental) que tem por missão “"pôr a ideia democrática em prática". Investigaram, estudaram e chegaram aquela brilhante conclusão e a conclusão está certa só que nós, por esta latitude e longitude, já o sabíamos, somos viajados, e de que maneira, bastava perguntar-nos. E depois aquela ONG apresenta um gráfico chamado "Everyday democracy index" e lá vem Portugal na cauda. Foi notícia durante uns dias na imprensa portuguesa. Houve risos sarcásticos «eu bem te disse…» e choros tristes «aonde é que isto vai parar…» Passados pouco tempo tudo normal, que o povo não gosta de infelicidades.

Uma coisa é a orgânica – a estrutura formal da democracia – outra coisa é a democracia propriamente dita, isto é, a vivência democrática de factu e não de jure. A democracia teórica não interessa para nada, letra morta em papel esquecido, tipo pergaminho bolorento perdido no entulho, só interessa a democracia prática, a democracia que se vive, que se respira, que se sente, que se cumpre, e a democracia formal que temos em nada corresponde à democracia quotidiana que vivemos.

Pela orgânica vemos coisas, sistemas e instituições, que de fachada são todas mais ou menos parecidas, mais desenho menos desenho, mais figura menos figura, mais órgão menos órgão, pela real vemos pessoas, cultura e atitudes e aqui é que a porca torce o rabo. Também já o sabíamos.

Quanto à cultura faltam cidadania e responsabilização, e quanto à atitude faltam empenho e participação, quando ambas, cultura e atitude, deveriam constituir o substrato da verdadeira democracia, seu fundamento e orientação, e deveriam a partir da prática inspirar a teoria. A teoria democrática existe para servir a prática democrática e não ao contrário. E porque é que faltam cultura e atitude? Porque falha o exemplo e o enquadramento!

O que está em cima dá péssimo exemplo de cultura e atitude, o que está em baixo imita-o; o que está em cima é prepotente, o que está em baixo desenrasca-se como pode, não tem nada que saber, é a lei do exemplo. É claro que há filhas sóbrias de mães bêbadas, e filhos honestos de pais gatunos, que o pecado ou o crime dos outros não justificam os nossos, mas uma coisa é falar da responsabilidade e consciência individuais, outra coisa é falar do estado ético e anímico do povo. Não sejamos irrealistas, se os governantes são maus e se o seu exemplo é péssimo é esse o enquadramento que o povo tem e será essa a moral que alastra e domina. O resto são cantigas.

Quer-se a decência? Então que se comece por cima pelo exemplo da decência. Quer-se mais democracia e menos corrupção? Então que se comece por cima pelo exemplo da democracia e da integridade. Que se comece sempre por cima porque é de cima que deve vir o bom exemplo e não se faça do povo bode expiatório do pecado e do crime que de cima lhe cai. E se o exemplo for bom, bom será o enquadramento, e sendo bom o enquadramento, bom será o povo.