quarta-feira, 9 de julho de 2008

41.Vencer o Herói (5)

O vilão para realizar a sua ganância tem que vencer o herói, para isso se preparou, por isso se profissionalizou. Síndroma e demanda justificam-se uma à outra e convergem. Quanto mais poder, menos povo, ou dito de outra forma, poder à custa e contra o povo. Quando se quer servir o povo não se busca o poder pelo poder, este é uma consequência benévola e um fardo, e não um fim em si, malévolo e um troféu, é um serviço e uma missão, não um interesse e uma retribuição.

Para o vilão o povo não é sujeito, é objecto, não existe para ser servido, mas para dele se servir e com esta mente e visão e este coração e obsessão vai empenhar-se na luta contra o herói, com estratégia e táctica. Leva consigo um plano de combate, minucioso e exaustivo.

Primeiro, ofuscar, embotar e cegar.
É a época do embala, programa de governo e muitas juras. Tudo é possível, tudo se promete. O povo diz: muita areia para os olhos, mas o que é certo é que deixa-se ir na canção do bandido.

Segundo, humilhar, acabrunhar, curvar e avassalar.
Afinal não era bem assim, chega a realidade e está tudo como dantes. O bom do Zé é apanhado na teia prepotente da burocracia pública, vemo-lo de boina na mão de cá para lá a pedir por amor de Deus faça-me lá esse jeitinho.

Terceiro, dominar, subjugar, sujeitar e submeter.
E olhado pelo governo como pessoa de má fé, o homem é mau por natureza, etc. há que prevenir que nunca se sabe, etc. é vítima de legislação estúpida que o trata como estúpido, anacrónica que o trata como atrasado, contraditória que o trata como bruxo, feita em cima dos joelhos pelos boys dos partidos.

Quarto, docilizar, amansar, domar e domesticar.
O governo esperto, mas só para os incautos, acena com maços de articulados, quanto maiores e mais pesados mais valiosos, a que chama de reformas, mais uma mãozada de areia para os olhos, mais um enxerto na manta de retalhos, desbotada e puída, a esfacelar.

Quinto, abafar, amordaçar, calar, coarctar, coibir e reprimir.
E ai do verdadeiro, íntegro, competente e corajoso que se levante e denuncie, o rei vai nu! Logo se lhe trata da saúde, ou pela difamação, ou pelo fisco. O sistema não pode tolerar tais aves raras. Mas a quando dos seus próprios escândalos e broncas o governo tem uma palavra que safa tudo: inquérito. Abrem-se muitos, fecham-se poucos. Afinal vivemos na realidade e está tudo como dantes.

Sexto, manietar, aprisionar, algemar, acorrentar e agrilhoar.
O bom do Zé sente-se completamente impotente e não enxerga onde está a democracia. Quer participar mas é posto de fora. Entretanto o governo em vez da polícia política, demodé, usa a polícia fiscal, à la carte, em vez da segurança do estado evoca a insegurança do deficit, a partir daí inventam-se, duplicam-se e multiplicam-se impostos e multas, taxas e coimas, tributos e juros etc. e penhoras, penhoras e penhoras.

Sétimo, debelar, desbaratar e abater.
Mente às empresas, quase sempre às pequenas, contrata e não paga, é caloteiro, não se sabe o que faz dos fundos comunitários, fomenta o desemprego.

E finalmente vencendo, escravizar ou aniquilar.
É a falência das empresas, só no primeiro trimestre foram treze mil, lança multidões para a sopa dos pobres, forja um Portugal desesperado por baixo do verniz da mentira.