sábado, 14 de junho de 2008

34.Em defesa da História

Estava de pé, e ela sentada, contava-lhe factos políticos históricos, e ela jovem, vinte e poucos, cara expressiva, modos despachados, esperta mas pura, resposta pronta nem sempre pensada, fitava-me presa e desconcertada, eram tantas as surpresas sobre o que lhe tinham dito e falado, olhos vivos, arregalados, e interrompia-me como já o fizera amiúde e de seu modo impulsivo e dizia-me «já há tantas associações por isto e por aquilo, porque não criar uma Associação para a Defesa da História?» e interrompi-me, agora eu, suspenso naquela ideia original, que nunca me atravessara, tão oportuna e necessária para este país, para esta geração e neste tempo, revirei-a, meditei-a por instantes e como quem lhe passa pelas mãos uma causa que não pode segurar respondi-lhe: «realmente é uma excelente ideia, mas eu já tenho tanta coisa que não posso, pode ser que alguém se lembre e eu adiro».

Chama-se Raquel. São estes filhos que um dia haverão de repor a verdade.

No dia seguinte tinha um e-mail dela:

«Zé, não me consigo conformar com esta “história”… Se tivesse capacidade era eu própria que constituía a Associação, movimento, grupo, qualquer coisa! Reunia os vivos que pudessem testemunhar, pesquisava os escritos do meu avô, registos, cartas, enfim! Qualquer coisa! Estou indignada e até afectada! Sinto-me enganada, traída e abusada! Como é possível!?!? Não me sai da cabeça…!

Reli o e-mail. Tristeza e esperança. Tristeza pela impotência, que sou, esperança pela semente, que será.