sábado, 7 de junho de 2008

32.O homem criou, o capital destruiu

“Em 1996, as primeiras viaturas eléctricas de produção em série, os EV1 (Electric Vehicle 1), foram fabricados nos EUA pela General Motors, e viram-se a circular pelas estradas da Califórnia. Eram viaturas rápidas: faziam dos 0 aos 100 km/h, em menos de 9 segundos! Não produziam nenhum gás de combustão (nem sequer tinham tubo de escape). Eram facilmente recarregáveis com energia eléctrica na garagem de casa. Dez anos mais tarde, estes carros do futuro desapareceram completamente! Como é isto possível? Em primeiro lugar, estas viaturas não podiam ser compradas, mas unicamente alugadas! Os contratos de aluguer não foram, pura e simplesmente, renovados. A General Motors recuperou todos os EV1, apesar da oposição dos seus utilizadores e depois… …DESTRUIU… todas estas viaturas.

Em 1997, a Nissan apresentou o modelo eléctrico Hypermini no salão de Tokyo. O Município da cidade de Pasadena (Califórnia - EUA) adoptou esta viatura como veículo profissional para os seus empregados. Foi muito apreciado pela sua facilidade de manobra e estacionamento, e ainda pela sua grande operacionalidade em movimentar-se dentro da cidade. Em Agosto de 2006, expirou o contrato de aluguer das referidas viaturas, entre a Nissan e o Município de Pasadena. O Município tentou comprar as viaturas mas a Nissan recusou peremptoriamente, tendo-as recuperado todas para as DESTRUIR!

Em 2003, a Toyota decide parar a produção do RAV4-EV. (EV - veiculo eléctrico). Este 4x4 eléctrico, um produto de alto refinamento tecnológico, era muito estimado pelos utilizadores. Em 2005, os contratos de aluguer das viaturas, expiraram. A Toyota imediatamente se apressou a recuperar todos estes veículos afim de os… DESTRUIR!

Mas entretanto, alguns cidadãos americanos começaram a organizar-se: A associação “DontCrush” entra em acção para tentar salvar os RAV4‑EV. Esta associação fez pressão sobre a Toyota durante 3 meses. Finalmente VITÓRIA! A Toyota recuou e autorizou, os que alugaram estes veículos RAV4‑EV, a comprá-los”.

A gigantesca prensa metálica, uma vez accionada, soltava um ronco sinistro enquanto as suas manápulas gémeas, paralelas, se aproximavam uma da outra, lenta mas inexoravelmente.

O carro eléctrico, vermelho vivo, de aparência igual a tantos outros e que mesmo de perto não confessava a sua particularidade distintiva, arrastado contra vontade, se a tivesse, sobre a manápula inferior, esperava sem esperar, na inconsciência material do não saber.

De repente, o ronco infausto da prensa muda abruptamente para um resfolgar acidentado, chiadeira descontínua, ora guincho, ora grito. A plataforma de cima esbarrara no tejadilho do carro, mas logo sem interrupção de marcha, sem indecisão ou contemplação, prosseguira, prensando, comprimindo, calcando, achatando, por fim esmagando o carro, novo em folha, vermelho vivo, igual a tantos outros mas com a desventura de ter nascido eléctrico.

Faz impressão olhar daqui este cenário, este amontoado de chapas metálicas, disformes, outrora soerguidas, elegantes e orgulhosas, lançadas umas sobre as outras, reflectindo aqui e ali um raio de sol, neste cemitério macabro de sucata.

O homem criou, o capital destruiu.