sábado, 5 de abril de 2008

16.Sobre a Educação

A educação vai "nua" - António Andrade

De facto já não é o rei mas é a educação que vai nua.

A fazer fé no que dizia o meu pai, já vai nua desde que "passou da Família para o Ministério". Dizia ele que a Educação era dada pela Família!

Como o meu pai era muito conservador eu por vezes não o ouvia-entendia. Mas como o entendo agora! (ele dizia "Instrução" em vez de "Formação";quanto á Educação continua a ser os comportamentos, os valores...)

Como se sabe, a antiga designação era de" Ministério da Instrução" mas o Estado-Novo mudou-o para "Ministério da Educação".E ele criticou severamente esta mudança e com razão. Mudança esta que de ingénua nada tinha. Aliás já a 1ª República apostou na Escola para "reformar" a sociedade, para construir o cidadão republicano de amanhã, o Estado Novo também e esta espécie de Democracia também; quer formatar o democrata de amanhã. E a família á parte. É sempre a Escola, o aluno, o professor, que pagam a factura mais pesada. (Não é a Saúde, nem a Defesa, nem a Economia, nem a Agricultura...)

A ideologia política alastra e infecta, em primeiro lugar, a Escola. E a ideologia política foi e é centralizadora. Em Lisboa, no Terreiro-do-Paço. Mas este centralismo burocrático obscurantista infecta a Escola e tudo mais! E nisto o Eça continua actual, infelizmente.

Mas pior um pouco se, como dizia Agostinho da Silva,"a Formação foi substituída pela Informação".(das máquinas partidárias).

Neste momento, em que tudo parece tão mal, o meu optimismo parece partilhar a teoria do "quanto pior, melhor",ou, como dizia o Pulido,"as meninas não reformam o bordel", portanto temos que bater no fundo para voltar ao de cima...É pesado, custa, mas não vejo outra saída.”

Torcer o pepino desde pequenino - Alfredo Magalhães Ramalho

Este é apenas um caso, sem grande gravidade, que ganhou importância apenas pelo facto de ter ficado documentado, mas grave é a situação geral que está por trás, de facto uma vergonha! Para todos meditarmos nos monstros que a nossa sociedade (ou seja, nós todos …) está a criar …

Há tempos eu tive que dar (e com todo o gosto dei …) uma descompostura a uma menina que, apesar das minhas repetidas advertências, aqui na Biblioteca onde trabalho, insistia em conversar com o namorado, e passados minutos a Ninfa estava no meu gabinete, acompanhada pelo seu Romeu, pedindo satisfações porque eu “lhe tinha falado de uma maneira que ela nem ao seu próprio Pai admite” !!! Fiz-lhe rapidamente ver que não sei nem me interessa saber o que o paizinho admite ou deixa de admitir; mas que, se ele não tem capacidade para educar a filha, eu tenho-a, e gabo-me de a pôr em prática, se e sempre que for oportuno.

Gostei de ver a facilidade e rapidez com que a grimpa dos piquenos baixou! Se calhar vinham à espera que eu contritamente pedisse desculpa pela forma imprópria como no exercício das minhas funções (e das responsabilidades que estas implicam) os tinha admoestado - tipo declarações no Parlamento por causa de coisas que se passaram há 500 anos, na lógica que então era a vigente; mas calaram o biquinho, ouviram o que eu tinha para lhes dizer e saíram do meu gabinete na maior das pazes …

Os estudantes, como toda a gente, não são à partida melhores nem piores do que qualquer de nós, respeitáveis cidadãos, mas todas as crianças têm uma tendência natural para irem até onde os deixarem ir, e se ninguém se der ao trabalho de “torcer o pepino desde pequenino”, como “dantes” se dizia, estaremos a fomentar que essa atitude imatura deformadamente se prolongue para o resto da vida, para além da fase de crescimento e educação em que é normal, saudável e natural …

Parece-me que o problema não é da “escola”, é dos valores e atitudes das pessoas que formam a sociedade em que a dita escola surge e funciona. Se os pais em casa se demitem de formar os filhos, é mau; se esperam que seja a escola a dar-lhes a formação que deveria em primeira mão ser dada pela família, é triste – se ainda por cima quando a escola tenta suprir essa falha a desautorizam, então … estamos mesmo perdidos!!!

Nota: nem esta aluna aqui filmada, nem a minha Ninfa de estimação e seu Romeu, serão, felizmente, exemplificativos do que é a maioria dos nossos estudantes; mas é bom que casos excepcionais como estes sejam divulgados e mostrados como negativos, e não passivamente admitidos como façanhas, que os colegas facilmente poderão tomar como gloriosos exemplos a seguir …

A educação não dada pelas famílias - Halima Naimova

Penso que todo este descalabro se deve à fragmentação social, cultural e económica da sociedade europeia/americana e à sua excessiva laicização e liberalismo broncos, não compreendido pela maioria da populaça para fazer o uso dele.

Nos últimos 25 anos houve acesso (aqui) generalizado à cultura material apenas; existem lacunas graves na educação não dada pelas famílias, estranhamente, numa sociedade na sua esmagadora maioria considerada católica não lhe foi ensinada a leitura da Bíblia ou ouvir a leitura da mesma.

Definitivamente é uma sociedade de bebidas gasosas que tornou os jovens portugueses, vindos (a maioria) das famílias em todos os sentidos pobres, nos gordos feios com um telemóvel na mão, e das famílias lavadas nos consumidores de bebidas espirituosas e utilizadores assíduos da indústria nocturna.

A fragmentação da sociedade europeia e americana leva à fragmentação da família, instituição primordial na construção mais ou menos equilibrada desta mesma sociedade: a ausência da família constitui o gravíssimo problema que se vive hoje.

Conceito e utilidade da educação - Luís Corrêa d´Almeida

Se eu perguntar a uma boa mão cheia de gente o que é a educação, ficarei sem resposta por duas simples razões: ignorância do conceito e falta de oportunidade.

Começando pela segunda, a falta de oportunidade, que leva à primeira, constata-se que a educação, no quadro da cultura dominante da nossa sociedade, é supérflua, não tem mais valia, isto é, não acrescenta valor e como tal não constitui factor de produção, ao contrário da formação ou instrução profissionais, imprescindíveis para o sucesso e felicidade.

Há pois, de raiz, um problema de utilidade. A História dispensou a necessidade da educação, a História actual já não precisa da educação. É a evolução da Humanidade. O avanço da ciência e da tecnologia libertou o homem dessa canga.

E porque a educação já não é mais precisa, vem a segunda razão, a da ignorância do conceito. Para que é que é preciso saber o que significa a educação se ela já não é mais necessária? Os educadores ficam portanto dispensados dessa árdua tarefa ainda por cima completamente inconsequente.

A educação vai mal porque já não é precisa, inclusive desdenha-se da sua utilidade, mais, a educação é sinónimo de regressão, de alguma coisa que ficou parada no tempo, que não soube evoluir, que não soube ajustar-se ao progresso e à modernidade.

Assim se pinta bem, com caras tintas, por fora, a edificação virtual do homem.

Esta leitura imediatista e curta da História e a extrapolação precipitada da evolução do homem, estatelam-se ao comprido no chão do real.

O real ensina-nos que impérios e civilizações não caíram por atraso da ciência e tecnologia relativamente aos seus concorrentes, não caíram por embate com os seus opositores, caíram podres por dentro.

O homem avança por fora o que recua por dentro. Avança em formação, recua em educação.

Mas sosseguem, a História, a força das coisas, se encarregará de repor equilíbrios, não exclusivamente de forma mecanicista ou dialéctica, mas também por génio do próprio homem.