sábado, 15 de março de 2008

12.A Nova Democracia - Das Ideologias para os Valores e Objectivos

A falência do regime partidário rotativista

Do regime ou do sistema, expressões alternadamente utilizadas querendo ambas significar a democracia, que no contexto das minhas crónicas, do meu repúdio, quando afirmo não acreditar, já não acreditar no regime, que outros preferem dizer no sistema, meros acidentes neste caso de semântica, porque queremos dizer a mesma coisa, nisso estamos de acordo, quando acrescento que também não acredito na capacidade de regeneração do regime, porque do governo é demasiado óbvia a sua impossibilidade para tal, faltou apesar de tudo aclarar essa expressão, regime, e o porquê dessa descrença. Faço-o agora.

Não acredito no regime, mas ainda, teimosamente, por razões provavelmente ontológicas, provavelmente éticas ou morais, acredito na democracia; não acredito neste regime democrático, nesta democracia partidária, neste rotativismo hipócrita, cúmplice e promíscuo psd / ps, sem virtude, em que nada de substantivo se acrescenta, apenas máscaras adjectivas se apensam, tirado a fotocópia desse rotativismo igualmente oco e estéril dos partidos regenerador / progressista do final do século XIX, mas apesar de tudo ainda acredito, apesar do excelente mau exemplo em desabono da democracia a que esses partidos, psd / ps, se têm dedicado, numa democracia verdadeira que cumpra a vontade do povo, e qualquer animal de bom-senso, mediano, não é preciso génio, desacreditará como eu, confrangido com a falência, que só espera arresto, e sentirá da urgência em reinventar ou redescobrir a verdadeira democracia, aquela em que efectivamente as legítimas aspirações do povo se realizam.

As ideologias foram-se, os partidos são mortos-vivos

Mas para isso tenho que recuar e explicar-me. Os partidos baseados nas ideologias secaram, estão mortos, porque as ideologias que os criaram e aleitaram já não existem, gastaram-se, foram-se, já não são deste tempo. Se eu perguntar a dez pessoas qual é a diferença entre democracia social e social-democracia, ou entre qualquer destas e o socialismo, nove ficam a olhar para mim… são conceitos meramente históricos.

As ideologias, estas ideologias do passado, deixaram de fazer qualquer sentido, sucumbiram, e por isso, os partidos que sobre elas ainda se fundam e justificam são espantalhos ao vento, são como que actores que tendo esquecido a personagem que incarnavam se mantêm no palco improvisando por fora o que já esqueceram por dentro. E mais grave ainda, se se perguntar a estes actores, os políticos, o que é que defendem, são capazes de dizer muita coisa sem dizer nada, porque têm perfeita consciência de que já não sustentam qualquer ideologia, sendo também eles próprios vítimas do sistema que criaram e que agora os recria. No entanto, quando a votos, o povo porfia em seguir aquilo que já não existe, uma democracia cristã (cds / pp), uma social democracia (psd), um socialismo (ps), e o que mais há…

A incapacidade de regeneração do regime

Receitar neste contexto como remédio a revitalização dos partidos, o que certas figuras públicas têm insistido em prescrever, é panaceia, perigoso por errado, pois pretenderia remendar o irremendável, enganando pelas aparências o que permanece de raiz, adiando e dolosamente a regeneração de fundo, a cura ansiada, a única verdadeiramente estruturante.

Tentar reanimar o actual sistema ou regime é como tentar, desesperando, insuflar ar num cadáver sem esperança de o ver ressuscitar, quando sendo cadáver melhor faríamos em arrumar-lhe os ossos e dar-lhe sepultura. Como é que se pode revitalizar seja o que for, dar-lhe vida nova, que não seja pelo reacender da chama que o anima? Só que essa chama, no caso dos partidos, a ideologia, de tão extinta já não atiça.

É por isso que a crise já ultrapassou este ou aquele governo, de resto sempre iguais, e é por isso que eu digo que já não acredito na capacidade deste regime, na sua capacidade de se regenerar, na sua capacidade de atear a chama, de tornar à vida.

Podem vir as melhores pessoas que infelizmente e malgrado a sua integridade e competência acabarão por soçobrar num sistema de si minado, ossos putrefactos a enterrar sem mais demora. É preciso ir mais fundo e criar um novo regime que engendre um novo enquadramento, uma nova chama, uma nova alma, que constitua fundamento firme para uma nova democracia.

Das ideologias para os Valores e Objectivos

O novo sistema ou regime, a nova democracia, descartará as velhas e gastas ideologias e porá em seu lugar alguma outra coisa que fundamente e justifique os partidos, que melhor seria mudar-lhes também e simbolicamente o nome, que os ilumine e oriente na sua teoria e praxis, e essa outra coisa são os Valores e os Objectivos.

Como identificamos, para aderir ou rejeitar, uma organização? Pelos valores que defende! Sigo os valores em que me revejo, recuso os valores que me são estranhos. Reconheço as pessoas por detrás da organização pela bandeira dos seus valores.

Que os valores sejam claros e não nebulosos, que sejam objectivos e não evasivos, que toquem cada uma das áreas fundamentais da governação, que não sejam de menos nem demais, um decálogo seria a justa medida, que sejam simples e não complicados, para que todos os compreendam

Assim, pelos valores e objectivos, conheceremos os partidos e nestes os homens, assim saberemos em que é que votamos, não em ideologias abstractas, que querem ser tudo e que não são nada, mas em propósitos e metas claros que nos apontam para onde vamos, “Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável” Séneca.

Medida 6

Que o político, melhor seria dizer, o homem de estado, incluindo neste a mulher, sendo íntegro e competente, um só não basta, ambos são necessários, animado de espírito de missão e não de glutão, ou já não seria íntegro, pare para reflectir, prepare-se com decoro retirando-se de preferência para local isolado, longe de distracções e tentações, que as há mesmo para os mais puros, e medite, primeiro nas área de governação, listando-as uma a uma… educação, justiça, saúde, etc… depois que as ordene pela prioridade que a inteireza do homem lhe impõe, afinal é para ajudar o homem a cumprir-se que a política serve, e que no final deste primeiro labor reveja atentamente a sua lista e ordenação, pois aí estará espelhada a medida da sua civilização.

Depois, à frente de cada área de governação escreva o Valor, o grande valor pelo qual se baterá e pelo qual valerá a pena governar, a alma da missão. Aí faz a prova dos nove da sua civilização, «diz-me os valores que defendes, dir-te-ei a tua estatura de homem!».

E tendo a integridade, e mais a coragem, de erigir um Valor, haverá de ter a competência de definir o Objectivo que o cumpre.

Imaginemos como exemplo que esse homem de quem falamos, andando devagar, em ponderação constante, sem distracções nem tentações, mas alerta na temperança, houvera chegado à área da educação erguendo como valor, aquele nobre valor que deve encher cada uma e todas elas, educar para servir, que outra coisa não concebe como utilidade para a educação que não seja servir, servir o homem e servir a comunidade e a seguir lavra o objectivo, que aqui apenas o reproduzimos por alto, mas que chega para diferenciar Valor e Objectivo.

O Valor, escreve ele então, é educar para servir e o Objectivo: promover, directa e indirectamente, por via pública e privada, de forma planificada, lógica ou racional, todas as formas estruturantes de educação, necessárias à pessoa individual e ao serviço da comunidade global, ou país, nem a menos nem a mais, não limitada por qualquer tipo de descriminação, incluindo a económica.

E revendo a sua descrição o mesmo homem aclara e precisa o seu objectivo para que não hajam dúvidas na cabeça do eleitor…

Promover, significa fomentar, impulsionar, dinamizar, incentivar, ajudar, ser pró-activo «eu tenho uma causa, ou uma missão, vamos a ela com alma…» A educação é um sector estratégico, este papel tem que caber ao estado.

De forma planificada, lógica ou racional, significa, acabaram-se os cursos falsos, os cursos iguais com chapéus diferentes, os chapéus diferentes com cursos iguais, as negociatas de ocasião, as intrujices e os descartáveis, para zelar pela integridade da educação é criado um Código de Educação e um Concelho de Educação, que não oscilam com o rotativismo partidário mas são-lhes independentes garantindo a intemporalidade da educação para além das modas.

Todas as formas estruturantes de educação, significa muitos significados, que isto de estruturante tem muitos sentidos; que só há educação se for estruturante, se fizer crescer, bem preparado, a sério, competência técnica e comportamental qualquer que seja o mester, nada de coisas superficiais ou atamancadas; Estruturante significa também consequência profissional da educação, implica programa de cooperação e responsabilização Escolas / Empresas; mas estruturante revela também que a educação não está ao serviço incondicional do progresso, da economia e das empresas, mas sempre e em primeiro lugar do homem e da comunidade, que educar sob pressão de muitas das tendências alienantes da selvajaria materialista não é seguramente estruturante.


Necessárias, tanto à pessoa quanto à comunidade, não mais para aquela e menos para esta, nem ao contrário, mas na medida do justo equilíbrio, se o ser é partida e chegada da sociedade, a sociedade dependerá da medida de cada um dos seus (…)

Não limitada por qualquer tipo de descriminação incluindo a económica, significa igualdade de oportunidades sem sofismas, porque a educação é um bem comum (e não um negócio) tal como o sol e não há sombras de primeira e sombras de segunda.

E recapitula e confirma «o meu valor é uma educação para o serviço da pessoa e da comunidade e o meu objectivo aí está, já o expliquei, tudo o mais vem em coerência».

Prosseguindo com o mesmo exemplo, o nosso homem desenvolve ainda mais o seu objectivo, uma coisa arrasta outra, finalizando todavia no cumprimento de uma única folha de papel e apesar disso expressivo, sem rabos de cavalo, perceptível aos homens de boa fé.

O político, digo, homem de estado, fez conscienciosamente o seu trabalho de casa. Amanhã poderá anunciar aquilo em que acredita com o coração e que defende pela razão. Os eleitores que se inteirem e que escolham, adiram ou rejeitem, não houve ilusionismo, passes de prestidigitação.

Estará então o dito liberto de levantar-se, respirar fundo regozijando-se na missão cumprida e sair do seu retiro para a liça.

E mais exemplos não dou, por ora chega este, em exercício de clareza para contrastar com as demagogias mágicas ideológicas.

Esta é a medida, que o político, melhor, homem de estado não sai do seu retiro, que muito lhe há-de aproveitar, até acabar o seu programa, começando pelas áreas de governação, continuando pelos Valores e terminando nos Objectivos, e que logo se apresse a aparecer à luz do dia com a boa nova, pronto e limpo, bem ataviado por decoro.

Agora que o povo, sem pretexto de desentendimento, decida com causa.